quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Caleidoscópio

Fotografia: Gleanne Rodrigues
Eu vejo realidades pintadas em vitrais. Elas atravessam em cores inexistentes. Raios de sol que refletem o brilho oculto. Passos incertos de quem caminha lá fora. 
Guardo horas arrastadas a observar o mundo. 
Vejo o caos de luzes brilhando de forma indistinguível. Trânsito de cidade grande às sete da noite. Os olhos fitam no vazio interno uma rua perdida. Escura.  Lá, a lua não apareceu.
Surgem na rua duas moças. Elas caminham como se não tivessem medo do mundo. Mãos dadas com uma força de chumbo. Palpito como quem encontra pela primeira vez um amor. Pares de olhos profundos, escuros. Íris que escondem sorriso e dor. A falsa liberdade de um bairro diverso. Paredes marcadas pela luta frequente. Olhares curiosos de pessoas vis. A hipocrisia de uma nação doente. Eu, mais um sujeito-expectador. Em caminhada, dobram a esquina. A rua volta a ficar vazia. Nas minhas fibras, o olhar envidraçado de uma delas. Foram embora, mas o caminho ficou cheio de saudade. Foram embora, mas no caminho ficou cheiro de saudade. E eu por mais um segundo continuo a bater. Só mais um segundo enquanto aquele par de olhos emoldurados viver.