sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Julietas

Esta é a tragédia da vida real. Digo isso e me deito de costas na cama. O ângulo está meio torto. Meus cabelos, outrora longos a ponto de encostar no chão, agora ficam pendurados como raízes altas de uma planta qualquer. A gata vem com suas patinhas minúsculas e tenta agarrar alguns fios. Mordê-los. Gatinhos adoram me fazer cafuné. Minha mãe está deitada na cama ao lado. Quando se tem dezenove anos e ainda é dependente dos pais, a vida torana-se uma prisão. O que dirá-se dos quinze, dezesseis. Aonde estais tu, meu amor? Me faço a pegunta cuja a resposta já sei. Pena não ter o poder mudá-la. 

Sinto minha inquietação aumentar a cada segundo. Leio um livro e outro, querendo jogá-los longe. Penso em mil coisas, tento encontrar algo que me ocupe, mas minha mente sempre volta ao ponto inicial: ela. Procuro na voz de Cazuza algum consolo; admiro o flautista bêbado; sorrio com o olhar doce do meu gato. Volto para o meu quarto e jogo cadernos antigos no chão. Inquieta, sufocando. Só me resta sentar na cama e sentir um frio-quase-quente enquanto penso em coisas que eu não sei.

Fito pela janela as cores refletidas no muro. Os tons de uma tarde quente que precede os últimos dias do ano. Lembro da cor dos teus olhos. Um cartaz de um filme no cinema dizia: Azul é a cor mais quente. Isso não se aplica a mim. Quente é a cor dos teus olhos quando você brinca me fazendo ter ciúmes. É o frio da tua pele; do teu nervosismo que tornam-se brasas combustível de desejos. Fria é a tua ausência. O abraço gélido da saudade que você deixou aqui. 

Através dos óculos vejo as nuvens distantes. Caminho pela casa abraçando meus próprios braços, querendo estar sozinha porque não posso estar ao lado dela. Vejo a mesma rua de tantos anos, vejo nossos passos marcados no chão. Vejo o que mais ninguém verá. Fim de ano e não quero a falsidade de ninguém. Ando por aí com o velho orgulho de antes, calada, alheia. Querendo apenas uma pessoa aqui, tecendo planos mirabolantes, tentando adivinhar um futuro distante. Me deixo desabar. Lembro da presença dela e tenho vontade de ficar por lá, sentada, olhando a outra cadeira vazia. Sinto que nunca estive tão intensa nos últimos anos.

Pendurado no meu pulso, um pedacinho dela. Um pulseira feita por suas próprias mãos. Nos lábios, a falta dos lábios dela. A gata puxa meus cabelos com força me tirando dos meus devaneios. Levanto da cama e vou até a cozinha; coloco um pouco de leite num prato e ponho no chão. A gatinha corre para beber. Boa menina, penso. Ando pela cozinha, abro a geladeira a procura de algo que não quero comer. Examino os armários. Vou até o quintal e vejo o vento soprar balançando as roupas penduradas no varal. Nada disso me importa. Trivialidades do dia a dia. Abro a torneira e molho meu rosto; depois o pescoço e tenho vontade de tomar um banho. Meu corpo arde e tenho certeza que não é culpa do calor. 

No celular, duas fotos dela. O desenho que fiz dela; o perfume dela que insisto em sentir e confundir com o meu. Insisto em escrever, linhas tortas, rimas inexistentes, desejos insistentes. A saudade deixando a respiração pesada, um arrepio correndo pelo corpo. Fecho os olhos e não sei mais no que pensar. Apago a luz. Respiro fundo e fico observando minhas mãos iluminadas só pela tela do notebook. Escuto o silêncio, como se isso fosse possível. O sono não vem, a inquietação não cessa. Tiro a roupa e troco-a por outra, simplesmente não sei o que fazer. Escrevo algumas linhas, coisas desconexas. Olho as estrelas e lembro dos beijos. Dos momentos que ficamos juntas; significou tanto, mas foram tão poucas as horas. As horas passam e eu não sei o que fazer, pensar ou sentir. Arrumo minha bagunça e vou dormir. Tentar dormir, pra falar a verdade.

Bebo um copo de suco enquanto espero o notebook iniciar. Agora é noite e depois do banho tomado decido tentar escrever. O computador finalmente liga, o quarto está iluminado apenas pela sua luz. Sigo os passos que me levam a um novo documento do word. "Esta é a tragédia da vida real", escrevo enquanto minha mente se perde passeando pelas vertentes do amor.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Elos

Um simples sorriso ou horas inteiras a navegar.
Mil beijos ou tua mão unida a minha mão.
Histórias do passado.
Momentos no presente.
O futuro?
Deus e o tempo.

Sensibilidades, palavras e emoções.
Identidades.
Coincidências. 

Tuas palavras que me encantam. 
Tua alma.
Vidas, liberdade. 

Palavras que não rimam.
Elas e elos.
Talvez elos inexistam.
Ou existam:
Amor. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Vinte e quatro

Tudo se sustenta em uma corda bamba. Eu danço no meio dela como se não fosse cair. Com toda a minha inexperiência, com toda a sabedoria de uma vida que eu ainda não vivi. São dezenove natais. Ou não. É tudo relatividade. Os dias tem o peso da eternidade. Os sorrisos tem o amarelado de um papel velho. Massacrado pelo tempo, amassado, rabiscado. Carregando nas marcas uma história. As sensações adormecidas pelo que passou. A voz abafada. A garganta fechada pelas palavras que não falou. O coração fechado, traumatizado por quem pensou que amou. 
E então ela entra e dança comigo. Suave loucura. Ensina que nem tudo é equilíbrio. Ela. Livre-quase-presa. Presa-quase-solta. Janelas abertas, telhado invisível. Entre estrelas, mostra que existe uma ordem no caos. Que abrir as portas não é sempre mau. "Hoje eu falei pra mim, Jurei até que essa não seria pra você. E agora é".  

E eu aceito escolher. Eu escolho aceitar.

sábado, 21 de dezembro de 2013

O amor de uma forma que eu não ousaria imaginar. Dois corpos. Duas almas. Uma distância que tortura. Tão perto. Tão longe. Encontros entre (im)possibilidades. Meu caos que ama teu caos. 
O que dizer de ti, menina dos meus sonhos. O que dizer para ti, menina da minha realidade. As horas que nos unem são de quase completa felicidade. As pessoas. Os homens bêbados que vivem suas vidas medíocres. Vidas que a gente observa como um mistério fascinante. Os olhos da cidade que me impedem de ser completamente feliz. De te ter mais perto de mim. 
Ah, menina... As palavras me fogem. Meu corpo e minh'alma só querem estar perto de ti. Hoje seria uma manhã se sábado comum, mas parte de mim ficou aí com você e eu só consigo pensar que preciso te ver. 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Seis

Sou poeta embriagado
minha mente flutua
passeia perdida
na mais bela curva tua

Eis que surge ao me ver
na tua expressão um sorriso
para meus olhos o paraíso
para minha mente delírio

teu sorriso tem as curvas
que me dizem sem palavras
que tu tens um amor puro
pelo qual me embriaguei

neste torpor te entreguei
os mais belos sentimentos
que minh'alma em meu tormento
nunca imaginou sentir

E na hora de partir
o coração quer mais tempo
resistente vou embora
com a promessa de até mais.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Treze

O choro preso no coração palpitante.
A pele macia que está na memória.
O toque suave e o carinho.
O rubor do teu rosto e o nervosismo.
Tudo que eu sinto estar tão distante.

Saudade.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Leveza

O futuro. O impossível. As tentativas que tendem ao fracasso. Os oprimidos, doloridos, sentimentos reprimidos. Ninfa(s) sozinha(s), lutando contra o comum. O medo insano das ideias postas. (Ou será o medo posto das ideias insanas?) A incerteza e a leveza lutando pelo impulso de vencer o invencível. 
Ver-te ou falar-te é exigir da minha natureza algo além de existir.
Será que ela pode obter?