sexta-feira, 26 de julho de 2013

Daltonismo existencial

Eu vejo o mundo em outro tom, mas eles não entendem isso. Me dizem que estou doente, me entopem de remédios. Isso tudo, só porque vejo a vida de forma diferente. 
Eu não vejo alegria em cada nascer do sol. A cada dia, crianças morrem de fome, meninas são estupradas. Pessoas são assassinadas. O mundo gira na velocidade do pânico. Como ficar contente com isso?
Eu não vejo alegria na criança que nasce. Ela nasce chorando, seu choro já nos mostra o quanto viver dói. Ela sai da proteção do útero materno para sofrer nas garras do mundo. 

Eu escuto o que os outros dizem. Eles tentam me enganar. Querem que eu veja a luz no escuro, mas a vela há muito se apagou. Também escuto o que não dizem, escuto a tristeza de cada olhar. As marcas do corpo da esposa de apanha do marido todos os dias. O efeito das palavras usadas indiscriminadamente. Os adolescentes que não tem confiança porque, quando crianças, foram maltratados, hostilizados. Alguns pensam "crianças não tem sentimentos". Eles não sabem o que dizem. 

Eu coloco minha máscara, simulo um sorriso. A sociedade só quer isso. Ela não quer saber se estou bem, o importante é sorrir. Então eu me engano para não ter que me explicar. Finjo ter esperança. Luto com todas as forças que tenho, mas o mundo, Ah, o mundo nunca ira mudar. Cada coisa tem seu lugar, o mundo é um campo de obstáculos e temos que ultrapassar mesmo sem querer. Quem desiste da corrida é fraco. Mas, as vezes, a insistência é tolice. 

Eu finjo pintar o mundo de uma cor que eu nunca vi. Eu vejo, a cada segundo, minha vida por um tris. 
Eu caminho sozinha, sentindo, sofrendo, chorando. Eles vivem a vida deles sempre se enganando.

terça-feira, 23 de julho de 2013

(Des)acerto

O sinal tocou anunciando que é hora de entrar na sala de aula. A turma está toda agitada, afinal é o último dia de aula. Levou um bom tempo até que os professores conseguissem reunir os alunos dentro da sala. Começou então a espera que parece eterna, alguns roíam as unhas e outros quase choravam enquanto a professora chamava o nome de cada um por ordem alfabética na lista de chamada. A cada nome, uma comemoração por ser aprovado ou lamento por ter que repetir o ano. Enfim chegou minha vez.
- Lucas?
Ao ouvir meu nome, instantaneamente meu coração disparou. Eu fiquei tenso e quase não consegui responder.  – Aqui professora.
Ela me olhou com uma expressão de compaixão, percebi logo que não viria uma boa notícia.
- Não atingiu a pontuação necessária, mas ainda tem uma chance. A prova de recuperação será próxima semana. Farão a prova juntas a turma A e a turma B.
Suspirei tristemente, minha mãe não vai gostar de saber disso.
Os nomes seguintes passaram indistintos e depois fui para casa.

Já em casa, minha mãe brigou um pouco comigo, mas foi menos do que eu esperava. Ela disse que devo passar a semana estudando, nada de sair com os amigos até passar essa prova. E assim passei final de semana e a semana toda, na noite da quinta-feira eu mal consegui dormir.

A  sexta-feira amanheceu chuvosa, o dia parecia triste, o que me causou um mau presságio.
Tomei banho, me arrumei e tomei o café da manhã.
- Boa prova filho. Desse-me minha mãe quando me viu passa em frente ao quarto dela.
Cheguei à escola e vi vários alunos esperando para fazer a prova de recuperação. É ótimo ver que não sou o único fracassado. Uma pessoa em especial me chamou atenção. Natália, a garota mais nerd da turma estava lá. Como pode ela está de recuperação? Há dois anos eu nutro uma paixão secreta por ela, mas não tive coragem de me declarar. O que uma nerd pode querer com um garoto burro como eu?
Sentei no meu lugar de costume, no fundo da sala, mas quando a professora chegou, ela me mandou sentar na frente. Justo ao lado da Natália.
Fizemos a prova e, quando todos terminaram, a professora avisou que o resultado sairia dali a duas semanas. Ela tinha provas de várias turmas para corrigir. Que ótimo, duas semanas de tensão!

Eu fui para o pátio lanchar para depois ir embora. Para minha surpresa uma voz me chamou.
-Lucas! Como você acha que se saiu na prova?
Virei na direção dessa voz sem acreditar, era Natália que falava comigo. Respondi gaguejando.
-Aacho que fui mal.
-Que pena. Ela disse.
Passamos um tempo conversando e eu não resisti. Confessei o meu amor por ela. Quase choro quando ela me disse que também me amava. Eram lágrimas de felicidade, mas tive que contê-las. Meu pai me ensinou que homens não choram.
Aproximei-me dela bem devagar, meus lábios estavam quase tocando os dela. Eu estava com medo, meu coração parecia que ia sair do meu peito. Ela sussurrou:
-Te amo.
-Eu também te amo, respondi. E então, beijei-a.
Nosso beijo foi delicado. O cheiro dela invadia minhas narinas, era suave. Natália era delicadeza em pessoa. Meus dedos acariciavam seus lindos cabelos ruivos.
No mesmo dia eu fiz o pedido de namoro e ela aceitou. Ficamos juntos a tarde inteira. Conversamos, tomamos sorvete. Descobri que ela gosta de ler, eu nunca curti muito, mas ouvi-la falando sobre os seus livros favoritos foi uma das melhores sensações que eu já tive. Seus olhos brilhavam. Ela estava linda. Despedimos-nos no fim da tarde com a promessa de voltarmos a nos ver na manhã seguinte.
Contei a novidade a minha mãe que me parabenizou e disse que queria conhecê-la. Mas não deixei de levar bronca por achar que fui mau na prova. Dormi aquela noite com a lembrança do beijo de Natália. Do meu primeiro beijo.
Encontrei minha namorada no dia seguinte, e no próximo... Descobríamos cada vez mais coisas que gostávamos um no outro. As duas semanas de espera do resultado acabaram sendo semanas mágicas.
No dia marcado, fui à escola receber minha prova. Assim que vi meu amor, dei-lhe um beijo e fomos de mãos dadas para a sala de aula. A professora entregou as provas, mas não tive coragem de olhar a minha. Natália recebeu a dela e se dirigiu a minha direção.
- Passei amor. Disse-me com um sorriso nos lábios.
- Ainda não tive coragem de olhar a minha.
- Deixa de ser bobo, olha logo.
- Nota quatro. Parece brincadeira, mas vou ter que repetir o terceiro ano.
Saímos da sala um pouco triste. Minha mãe quase ma mata, mas não havia mais nada para fazer. Passei o restante das férias curtindo meu amor.

Faltavam dois dias para começarem as aulas. Pela manhã, Natália me disse que precisava conversar comigo. Notei certa urgência e tristeza. Encontramos-nos no parque. As palavras dela partiram meu coração.
-Vou ter que ir embora. Minha família vai se mudar e farei faculdade em outro estado.
Fiquei sem reação. As lágrimas rolaram e eu não pude evitar. Ela me beijou. Seus olhos também derramavam sua tristeza. Nosso beijo foi regado pelas lágrimas dos dois. Foi salgado. Foi doloroso. Foi intenso. Ficamos juntos o resto do dia.
Dez minutos depois de chegar em casa, eu ainda não havia conseguido parar de chorar. Antes de vir embora tentei convencê-la a encarar um namoro a distância, mas nem eu tinha certeza se daria certo. Ela me disse que nosso amor é de outras vidas e que, um dia, ficaremos juntos. Não sei se acredito nessa história.
Adormeci e tive um sonho. Natália me beijava no pátio da escola, onde demos nosso primeiro beijo, mas diferente do primeiro, este não era um beijo delicado. Era forte, urgente. Acordei ofegante. Chorei ao imaginar que poderia nunca mais tê-la comigo.
As aulas vão começar, mas eu não reclamo mais por ter de repetir o último ano do ensino médio. Se não fosse minha falha, minha nota ruim, eu não teria vivido o mês mais intenso da minha vida. O mês mais feliz que tive até hoje.  
São oito da manhã e me ponho a recordar o que aconteceu desde o dia da prova de recuperação. O vôo dela estava previsto para as sete da manhã. Eu não fui ao aeroporto, pois não suportaria vê-la partir. Natália já deve ter ido embora e talvez eu não volte a vê-la.
Com isso, ela apenas confirmou o que eu já sabia: Pássaros não nasceram para viver em gaiolas. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Edifício em construção


Hoje visitei um edifício em construção. Passei por cada andar imaginando quantas famílias aquele prédio ira abrigar. Fui até a cobertura e me pus a pensar:
De cima da cobertura de um edifício em construção, a vida parece pequena em sua vasta imensidão. Areia, tijolo, cimento.  Batem, furam, empilham. Bebem, fumam, gritam. Edificação.
De cima da cobertura de um edifício em construção, o vento toca a pele, o céu parece próximo. A paz está presente. Apreciação. 
Tantas casas, tantas ruas. Tantas pessoas e animais. Cada pessoa um pensamento. Pensamento gera ação. Ação da sociedade. Sociedade em construção.
Política, Saúde, governo, educação.  Desvio, roubalheira, “pão e circo”, mensalão.
De cima da cobertura de um edifício em construção, eu vejo um viaduto, terrenos ocultos, lixo em decomposição.
Debaixo do viaduto, vive uma criança. Inocente ela dança, usa imaginação.
Debaixo do viaduto, mora a fome e a miséria.  A histeria da guerreira que implora um pedaço de pão.
De cima da cobertura, a riqueza julga a pobreza. Berço de violência e tristeza. Da paz a redução.
Debaixo do viaduto, o pobre sabe o que diz. Foi o voto do cidadão que escolheu a representação que hoje brinda a corrupção, no nosso infeliz país. 

domingo, 21 de julho de 2013


"Querida amiga,
Faz algum tempo que não nos falamos, mas você sempre foi minha confidente. Como tenho andado muito triste e sozinha resolvi escrever. As férias chegaram e essa época é a pior. Lembra do Marcelo? Você estava comigo quando o conheci. Eu tinha doze anos e ele se tornou um bom amigo. Fora você, ele era a única outra pessoa que ainda ficava perto de mim. Acabamos nos apaixonando e namoramos algum tempo. Mas hoje ele foi embora. Acabamos de brigar, mais uma vez. Ele não suporta mais conviver com uma garota bipolar. Dias depressivos. Lágrimas incontáveis, automutilação. Ele disse que não suporta ver o que faço comigo. Que ele sente dor ao ver cada cicatriz. Mas ele não entende.
Diz que me ama, mas faz chantagem porque não quero ir para cama com ele. Ele não respeita meus traumas, não respeita meu corpo. Como pode me amar?  Sempre nos encontrávamos na casa dele e, com isso, ele não sabe o que se passa na minha casa. Não sabe tudo que tenho que suportar. “Depressão é frescura”, mas ele não convive com o que eu sinto.
Dias maníacos.  Agitação, angústia. Descontrole. O outro lado da moeda é tão ruim quanto o primeiro.
Acho que ele tem razão. Eu também não gosto de viver com uma garota bipolar. Mas não tenho alternativa, pois sou essa garota.
Vou parar de escrever agora. É hora de tomar meus remédios, vã tentativa de me controlar, mas depois voltaremos a nos comunicar.

Com carinho, Fernanda."

sábado, 13 de julho de 2013

Ignorados

Ruas escuras,
Caminhos sombrios.
Homens nojentos, 
Doentia ambição.

Sujeira. Fumaça.
Violência. Silêncio.
Ópio. Delírio. 
Lamento. Solidão. 

Criança inocente,
Caminha sozinha.
Sonha contente.
Usa a imaginação. 

Sorriso. Brinquedo. 
Boneca. Casinha. 
Livro. Escola. 
Futuro. Realização. 

Estradas cruzadas.
Inocente confia.
Imprudência. segredo. 
O medo encobria. 

Momento. Suor.
Ofegante explosão.
Lágrimas. tormento.
Dor. Sofrimento.
Suicídio. Prisão?!


sexta-feira, 12 de julho de 2013

De: Helena Para: Antônio


Oi amor,
O dia amanheceu chuvoso, o frio me fez desejar ter você para me aquecer. Nunca imaginei que poderia sentir tanto a presença de alguém ausente, mas você está em todos os lugares.  Seu cheiro está no travesseiro, sua escova ainda está junto a minha no banheiro.  Ainda preparo seu café todos os dias, mesmo sabendo que você não virá tomar. Faz oitos meses, mas ainda não acredito no que aconteceu.
Nosso bebê chuta muito, é uma menina. O nascimento está previsto ainda para essa semana. Anseio vê-la para poder procurar nela cada pedacinho seu. Pena que você se foi antes mesmo de saber que ela estava a caminho.  Ela vai se chamar Júlia. Você sempre me disse que, se tivesse uma filha, seria esse o nome dela.
Todos os dias a lembrança volta a minha mente, eu tinha acabado de receber o resultado do teste de gravidez. Estava louca para te contar. Ligaram-me dizendo que você estava no hospital. O acidente foi grave, um carro bateu na sua moto. Maldita moto! Mais um pouco e você a trocaria por um carro, então, talvez isso não tivesse acontecido. Você ficou em coma, por três meses, nunca retornou...”

Nesse momento, as lágrimas rolam soltas me impedindo de terminar a carta. Assim mesmo, inacabada, guardo junto às outras. Uma pilha de cartas em uma caixa, cartas que Antônio nunca irá ler. 

Um ano


Há exatamente um ano nascia meu blog. Primeiro chamei-o palavras ao vento. Passou para a voz da emoção, Warrior for life e, finalmente, Idiossincrasia. Espero parar por aqui. Era apenas uma aventura, um passatempo. Hoje é quase um filho. Escrevo por amor e amo meu blog que é a reunião dos meus escritos. Espero que está data se repita muitos anos mais. 

Parabéns Idiossincrasia!!!!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Além do tempo

Um dia, em uma tertúlia
Alguém me tirou pra dançar.
O que eu não sabia
Era que naquele dia
Algo iria mudar.

Logo um clima rolou
E, no coração,
Uma semente plantou.

Ele pediu-me em namoro.
Eu, criança fugia.
Até que numa tarde na praça,
Ele me agarrou
E com um beijo selou
O amor que ali nascia.

Mas como a vida é cruel
Apenas três anos durou.
Cada um, seu rumo tomou
Construindo uma nova vida.

Agora, depois de um tempo
A vida se pôs a brincar.
Para alegria ou tormento
Trinta anos não puderam separar.

Na era da internet,
Vivo um amor virtual.
Que começou na infância
Com uma inocente criança,
Entre os passos da dança
Que era só um começo,
Mesmo depois do final.

Ópio ou ócio



Poesia é assim:

Um “Q” de estranheza

Travestido de beleza

Iludindo as rimas.



Perfídia que me fascina

Paixão que me domina

Entre o ópio e o ócio.



Paliando a dor

Faz passar por amor

As lágrimas de quem sofria.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Broken

                                        



Eu não aguentava mais as manias da minha mulher. Depois de dez anos de casamento, tudo parecia frio. Eu não tinha gosto mais nem de vir para casa no fim do dia. Essa noite eu demorei, fiquei perdendo tempo na rua. Cheguei em casa tarde, ela nem se quer reclamou. Eu disse tolices, coisas impensadas. Eu fui cruel. Tivemos uma briga horrível, a maior que tivemos desde o início do casamento. Ela me disse que eu não a amo mais. Que se duvidar, já arrumei outra, mas que não quer me perder. Que está disposta e lutar pelo meu amor. No quarto ao lado o bebê chora, porque essa mulher não vai cuidar dela?! Luíza não tem culpa de nada, ela foi gerada em um dia que eu estava bêbado e veio ao mundo faz apenas um mês. Mas eu não posso me obrigar a viver neste inferno por causa de um bebê que eu nunca quis ter. 

Pego minha mala em cima do guarda-roupas, jogo dentro dela as primeiras roupas que consigo encontrar. Abro o cofre para pegar algum dinheiro. Vejo um envelope que não me recordo ter guardado. Abro-o e o que encontro me desarma totalmente. Fotos de uma época que me ponho a recordar. A primeira foto. Eu e Isabela em uma festinha da escola tínhamos sete anos, naquela época nem sonhávamos em nos casar. A segunda. Isabela, com treze anos, na escola. Foto que tirei escondido, foi nessa época que começamos a paquerar. A foto seguinte me arrancou algumas lágrimas, nossa formatura. Tínhamos dezessete anos e foi quando nos beijamos pela primeira vez. Eu era um garoto desajeitado e ela parecia uma princesa no seu lindo vestido azul. Nas próximas fotos, me deparei com nossos passeios. Juntos na praia, na serra. Fotos do casamento, da lua de mel. Fotos dos aniversários, da comemoração dos anos de casados. Fotos do nascimento da Luíza Toda minha vida passando na minha frente. Diante daquilo tudo, o que são algumas brigas...? 

Desço as escadas, Isabela continua no mesmo lugar em que a deixei quando a briga acabou. Sentada no chão da sala, chorando como nunca vi. Aproximei-me:

-Isabela, me perdoa. Eu te amo. 

Não precisei dizer mais nada, ela sabia que eu estava sendo sincero. Beijamos-nos como não fazíamos há muito tempo. Ter Isabela comigo, me fez sentir como se tivesse de novo dezessete anos. Acariciei seu rosto, cheirei seu cabelo, ela ainda usa o mesmo xampu. Percebi o quando desconheço minha mulher. O quanto deixei que os anos apagassem o meu amor. Ela ainda tem o mesmo sorriso lindo, o mesmo olhar carinhoso. As mesmas palavras doces, agora, carregadas de mais maturidade. Nosso clima foi quebrado pelo choro de Luíza. Juntos, subimos para o quarto da nossa menininha. Pela primeira vez ajudei a cuidar dela, quando a coloquei nos braços percebi que tinha nascido para ser pai. Após trocar a fralda de Luíza, entreguei-a para Isabela amamentar. Foi uma das cenas mais lindas que já vi. Luíza acabou por dormir. Eu e Isabela fomos para nosso quarto.

Agora, a sós, tornei a beijá-la. Os lábios ganhando uma urgência intensa. Ela correspondendo a todos os meus toques. Digo apenas que nos amamos como se fosse à primeira vez. Passamos um bom tempo, apenas abraçados. Eu poderia ficar assim pra sempre. Apenas admirando minha mulher. Mas Isabela demonstrava sinais de que queria recomeçar. Eu ia beijá-la quando fomos interrompidos, Luíza voltou a chorar.

-Deixa amor, eu cuido dela.



Sai do quarto e fui atender as necessidades do nosso bebê. Mas antes de sair pude ver um olhar, minha mulher esperava meu regresso para voltarmos a nos amar.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Blog de cara nova

Para acompanhar uma nova fase da minha vida e com a proximidade de completar o primeiro aninho do blog, ele - Idiossincrasia está de nome novo e cara nova. 

P.S. O blog se chamava Warrior for life. 

Em obras.

Desculpe-me a bagunça. Blog em manutenção. 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Sob a chuva...



O relógio marca dezoito horas. O mundo lá fora já escureceu. O vazio do meu apartamento me sufoca. A cama desarrumada me chama para mais uma noite de insônia. A fumaça do cigarro recém apagado ainda paira no ar, transformando a atmosfera em uma nuvem cinza. O frio do inverno me faz tremer. Preparo uma bebida quente, na esperança de me aquecer, mas meu corpo deseja outro calor. A janela embaçada faz com que tudo pareça indistinto. Vejo vultos de pessoas apressadas, tentando fugir da chuva que começa a cair. Parecem formigas, vistas daqui de cima. Enquanto elas fogem, eu saio de encontro à chuva. Demora o que poderia ser uma eternidade, enquanto espero o elevador chegar. Dentro daquele saguão vazio, pesa ainda mais a solidão. Enfim o elevador chega. Entro ao mesmo tempo em que Minha vizinha sai. Ela parece triste. Samanta é apenas mais uma que foge da chuva, mas ela é diferente. Eu a amo.

Ando sem rumo, apenas sentindo aqueles pingos na minha face. Tento não pensar no amor que nunca irá acontecer. Inúmeros conflitos povoam minha mente. Como eu fui sonhar com um amor tão impossível? A chuva aumenta, ajeito meu casaco e abro o guarda-chuva. Caminho por um tempo, até perceber onde estou. Parada em uma ponte, acima de um rio. A água lá em baixo me parece familiar. É tão convidativa. Não consigo mais evitar e Samanta me volta à cabeça enquanto me preparo para pular. 


Os primeiros pingos começam a cair, olho o relógio de pulso, são dezoito horas. Dirijo-me para casa, está escuro e eu estou cansada após um longo dia de trabalho. Esqueci o guarda-chuva, então, preciso correr. Chego ao prédio onde moro, espero, entro no elevador. Ele chega ao andar em que moro, quando vou saindo, Marcela entra. Ela não me olha, fico triste, pois eu a amo. Porque será que tenho a sensação de que não voltarei a vê-la? Ando até meu apartamento, aquela sensação não me sai da cabeça. Com uma urgência desconhecida, corro para tentar alcançá-la. O elevador demora e eu saio correndo pelas escadas sem pensar no número de lances que terei que descer. 

Corro para a chuva que já está forte. Estou ensopada, o casaco molhado pesa, mas corro como se minha vida dependesse disso. Logo a frente está a ponte que atravessa o rio que passa ao lado do apartamento. Desespero-me ao perceber que Samanta está lá, pronta para pular. Grito seu nome com todo meu fôlego, ela me olha sem acreditar. 


Da janela do meu quarto, olho para chuva. Está forte e quase não vejo a rua. Um movimento estranho me chama atenção, uma mulher está pendurada na ponte, enquanto outra grita seu nome. Tento entender o que acontece ao que parece, a primeira quer pular. Saio apressado, preciso saber se posso ajudar. Mais de perto, tudo é mais nítido. Duas moças belas, com semblante sofredor. Uma delas grita:

-Marcela, eu te amo.

A outra parece surpresa, suas lágrimas se misturam a chuva. Quase não se percebe que ela está a chorar. As duas se aproximam, e se olham com grande ternura. Elas tocam o rosto uma da outra mutuamente. Percebo que minha presença ali é desnecessária. Escuto apenas quando elas falam, uma o nome da outra:

-Samanta.

-Marcela.

E vou embora, permitindo alguma privacidade para aquele amor.



            

domingo, 7 de julho de 2013

Ela continua!

         


E quantas vezes você se pega pensando no que a vida fez com você? E quantas vezes se pega pensando no que você fez da vida? Essas são questões que, há seu tempo, cada um vai responder. Eu ainda estou longe, ainda terei uma longa caminha pela vida. Não tão longa como normalmente seria, mesmo assim, longa o suficiente para chegar a responder essas perguntas. 


Um dia você descobre o quanto é imaturo, o quanto precisará evoluir emocional e espiritualmente para conseguir sobreviver e essa existência. Quanto desafio ainda enfrentará durante a vida? Quantas provas serão enviadas para testar sua força e, principalmente, sua fé. Não somente sua fé em Deus, em um ser maior. Mais também, sua fé em você, nos amigos, na família, na vida.


O tempo passa, as coisas mudam e um dia você não é mais criança. Um dia você percebe que está rodeada de problemas, que a inocência da infância não a deixava compreender. Você luta para sobreviver, você cai achando que nunca mais conseguirá levantar. Mas você levanta, segue em frente até a próxima queda. O sol nasce todos os dias trazendo consigo uma oportunidade para tentar novamente. A cada dia uma batalha. Às vezes você pode achar que o mundo está acabando. Que não suportará tanta dor, porém você segue em frente. Aprendendo a lição mais certa da vida. Independente do seu estado, a vida sempre continua...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cecília

Cecília era uma garota conhecida por todos, não pela sua beleza, em que não havia nada incomum, tinha olhos castanhos e uma face redonda emoldurada por curtos cabelos negros. Cecília era conhecida pela sua alegria. Em todo lugar que entrava ela espalhava uma luz que acalmava a todos. Tinha o dom de fazer as piadas certas na hora certa, e com isso garantia risadas aonde quer que andasse. Era uma menina muito independente, saiu de casa aos 18 anos para morar em outra cidade, trabalhava em um museu e no tempo livre estudava arte. Às vezes, Cecília agia por impulso, o que fazia que nem sempre as coisas dessem certo, mas isso não a fazia desistir, ela tinha uma imensa alegria de viver e isso a encorajava até quando tudo estava dando errado.

Aos 21 anos Cecília vivia muito bem, sozinha em seu belo apartamento. Meu apartamento ficava no mesmo andar que o dela. Sua sensibilidade e sensualidade acabaram por me conquistar, mas ela só me queria como amigo. Cecília evitava qualquer possibilidade de viver uma grande paixão. Eu me contentava em ter a amizade dela, todas as tardes de domingo nos encontrávamos em meu apartamento para debater sobre arte, música e ensinar um ao outro o que aprendíamos durante a semana. Minha mãe sempre preparava um jantar, ela me dizia que Cecília era uma menina de diamante.  Em um desses domingos eu não resisti, minha mãe havia saído para por a mesa e meu amor foi mais forte que a razão, estando eu a sós com Cecília, a beijei. De início, Cecília correspondeu ao meu beijo, lentamente e carinhosamente, naquele momento, eu percebi que ela me também me amava. Porém de súbito tudo mudou, ela se afastou de mim com rispidez e a vi cair aos prantos. Foi então que Cecília me contou que toda sua felicidade não passava de um mero disfarce. Que saiu de casa porque seu padrasto a violentava e sua mãe nada podia fazer, já que apanhava dele. Que construiu uma vida leve, para mascarar o peso da dor que carregava no peito. Ouvir sua confissão dilacerou meu coração, eu compreendi que precisava protegê-la, eu a amei mais ainda. Falei para ela que não precisava me temer, que eu a protegeria e que ninguém, nunca mais a faria mal. Ela me disse que precisava ir e saiu sem ao menos esperar pelo jantar.

Dois dias depois, Cecília veio me ver. Sem dizer uma palavra, ela me tocou de leve os lábios. Convidei-a para entrar e ela aceitou. Sentamos no sofá e eu ia dizê-la que a amo, mas suavemente ela encostou os dedos em meus lábios para me silenciar. Aconchegou-se em meus braços e assim ficamos pelo que me pareceram horas, as horas mais felizes de minha vida. Ali, nos meus braços, a garota forte e independente, parecia uma criança carente. E eu estava disposto a cuidar dela para sempre. Adormecemos-nos no sofá. Quando acordei já era noite, procurei Cecília e ela não estava em nenhum lugar. Fui ao seu apartamento, toquei a campainha diversas vezes e ela não atendeu. Voltei para casa e dormi com a lembrança do calor de Cecília nos meus braços.

No dia seguinte fui visitá-la, mas me surpreendi ao encontrar seu apartamento vazio, estava à venda. Como o vento, que sopra e refresca para logo ir embora, Cecília foi um sopro de alegria em minha vida. Ela me deu os momentos mais felizes que já tive, porém o vento também cessa e com meu sopro não foi diferente. Por muito tempo a procurei, entretanto nunca mais voltei a vê-la.

Todos os dias eu lutava para manter a lembrança de Cecília em minha memória. Mas sempre que passava por seu apartamento vazio, eu me perguntava se Cecília não teria sido um sonho...