Eu não aguentava mais as manias da minha mulher. Depois de dez anos de casamento, tudo parecia frio. Eu não tinha gosto mais nem de vir para casa no fim do dia. Essa noite eu demorei, fiquei perdendo tempo na rua. Cheguei em casa tarde, ela nem se quer reclamou. Eu disse tolices, coisas impensadas. Eu fui cruel. Tivemos uma briga horrível, a maior que tivemos desde o início do casamento. Ela me disse que eu não a amo mais. Que se duvidar, já arrumei outra, mas que não quer me perder. Que está disposta e lutar pelo meu amor. No quarto ao lado o bebê chora, porque essa mulher não vai cuidar dela?! Luíza não tem culpa de nada, ela foi gerada em um dia que eu estava bêbado e veio ao mundo faz apenas um mês. Mas eu não posso me obrigar a viver neste inferno por causa de um bebê que eu nunca quis ter.
Pego minha mala em cima do guarda-roupas, jogo dentro dela as primeiras roupas que consigo encontrar. Abro o cofre para pegar algum dinheiro. Vejo um envelope que não me recordo ter guardado. Abro-o e o que encontro me desarma totalmente. Fotos de uma época que me ponho a recordar. A primeira foto. Eu e Isabela em uma festinha da escola tínhamos sete anos, naquela época nem sonhávamos em nos casar. A segunda. Isabela, com treze anos, na escola. Foto que tirei escondido, foi nessa época que começamos a paquerar. A foto seguinte me arrancou algumas lágrimas, nossa formatura. Tínhamos dezessete anos e foi quando nos beijamos pela primeira vez. Eu era um garoto desajeitado e ela parecia uma princesa no seu lindo vestido azul. Nas próximas fotos, me deparei com nossos passeios. Juntos na praia, na serra. Fotos do casamento, da lua de mel. Fotos dos aniversários, da comemoração dos anos de casados. Fotos do nascimento da Luíza Toda minha vida passando na minha frente. Diante daquilo tudo, o que são algumas brigas...?
Desço as escadas, Isabela continua no mesmo lugar em que a deixei quando a briga acabou. Sentada no chão da sala, chorando como nunca vi. Aproximei-me:
-Isabela, me perdoa. Eu te amo.
Não precisei dizer mais nada, ela sabia que eu estava sendo sincero. Beijamos-nos como não fazíamos há muito tempo. Ter Isabela comigo, me fez sentir como se tivesse de novo dezessete anos. Acariciei seu rosto, cheirei seu cabelo, ela ainda usa o mesmo xampu. Percebi o quando desconheço minha mulher. O quanto deixei que os anos apagassem o meu amor. Ela ainda tem o mesmo sorriso lindo, o mesmo olhar carinhoso. As mesmas palavras doces, agora, carregadas de mais maturidade. Nosso clima foi quebrado pelo choro de Luíza. Juntos, subimos para o quarto da nossa menininha. Pela primeira vez ajudei a cuidar dela, quando a coloquei nos braços percebi que tinha nascido para ser pai. Após trocar a fralda de Luíza, entreguei-a para Isabela amamentar. Foi uma das cenas mais lindas que já vi. Luíza acabou por dormir. Eu e Isabela fomos para nosso quarto.
Agora, a sós, tornei a beijá-la. Os lábios ganhando uma urgência intensa. Ela correspondendo a todos os meus toques. Digo apenas que nos amamos como se fosse à primeira vez. Passamos um bom tempo, apenas abraçados. Eu poderia ficar assim pra sempre. Apenas admirando minha mulher. Mas Isabela demonstrava sinais de que queria recomeçar. Eu ia beijá-la quando fomos interrompidos, Luíza voltou a chorar.
-Deixa amor, eu cuido dela.
Sai do quarto e fui atender as necessidades do nosso bebê. Mas antes de sair pude ver um olhar, minha mulher esperava meu regresso para voltarmos a nos amar.
lindo
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Obrigada. :)
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